XI Edição dos Jogos dos Povos Indígenas foi encerrada oficialmente em Porto Nacional
Com toda magnitude, diversidade cultural, tradicionalidade, e arquibancadas lotadas, a XI Edição dos Jogos dos Povos Indígenas (JPI) foi encerrada oficialmente na noite desse sábado, 12, na arena central da Ilha de Porto Real, em Porto Nacional. Um público de aproximadamente 10 mil pessoas assistiram as apresentações de rituais de despedida e de saudade, de 40 etnias brasileiras, com cerca de 1.400 indígenas. Os nativos, fortemente emocionados, agradeciam a Deus e ao Comitê Intertribal de Memória e Ciência Indígena (ITC) pela realização do evento. O tempo estava chuvoso, mas a intensa espiritualidade manteve acessas as cinco tochas espalhadas pela arena. A equipe organizadora foi presenteada com um quadro de madeira, produzido por um artista portuense, onde foi desenhada a logomarca dos Jogos. O artesanato foi conduzido por um membro do Povo Kaingáng como forma de prestigiar Porto Nacional.
Ao início da cerimônia, o jovem indígena Guarani-Kaiwá, Josiel, já com a tocha olímpica, deu uma volta na arena e acendeu a pira das “Olimpíadas Verdes”. Em seguida as etnias participantes adentraram o local, formando dois grandes círculos e outras rodas menores. Começaram os rituais, ao redor do fogo gigante e sagrado no centro da arena. Todos os presentes foram saudados. Um misto de risos e lágrimas.
O estudante do 9o período do curso de Medicina da faculdade ITPAC, de Porto Nacional, Pascoal Alves do Nascimento, visitou o cenário dos Jogos. Ficando maravilhado com a grandeza do evento, fez uma poesia e a ofereceu aos presentes na solenidade.
O vice-prefeito de Porto Nacional, Erazine Fonseca, na ocasião representando a prefeita da cidade, Tereza Martins, destacou a satisfação da Prefeitura Municipal com a realização do evento. “Fizemos com prazer o que nos foi delegado. Todo o executivo municipal trabalhou de corpo e alma para que tudo saísse da melhor forma”, assegurou. O gestor disse ainda que 20 mudas de diversas espécies foram plantadas na Ilha, como forma de preservar o meio ambiente, e que aplaude os indígenas brasileiros por terem essa conduta, nas veias.
“Sinto-me feliz por ter presenciado a tradicionalidade e a simplicidade dos primeiros habitantes do Brasil em Porto Nacional, narrou Fonseca.
Dentre as autoridades estava o secretário municipal de Turismo e Cultura e coordenador municipal dos Jogos, Jefferson Lopes. O gestor, com toda a sua competência, realizou um trabalho de excelência junto à comissão organizadora. Foram 192 horas de atenção especial ao evento. “A Prefeitura Municipal, no comando da prefeita Tereza Martins, fez o melhor que pôde para atender os visitantes, turistas, etnias e envolvidos com os Jogos. Estamos contentados pelo dever cumprido”, garantiu.
Lopes recebeu das mãos de Carlos Terena o Certificado de Colaborador Especial dos Jogos. O documento foi assinado por Samira Marcos Tsibodawapre, presidente do ITC e por Wadson Ribeiro, secretário nacional do Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social.
O Senador da República portuense, Vicentinho Alves, que lutou para que os Jogos fossem realizados no município, declarou que as portas do Senado Federal estão abertas aos nativos do Brasil. “Estou muito feliz e me sentindo especial por esse evento ter acontecido em nosso município. Vou colaborar para a realização dos Jogos Mundiais dos Povos Indígenas e trabalhar em conjunto com órgãos federais que cuidam da causa indígena, para que dispensamos uma atenção mais que especial a essa nação”, afirmou.
Marcos Terena, diretor do ITC e idealizador dos Jogos desde 1996, foi homenageado pelo Povo Kaingáng, com ritual de agradecimento.
A Marinha do Brasil no Tocantins, representada pelo comandante do 7o Distrito Naval, Leal Ferreira e pelo comandante da capitania dos portos Araguaia-Tocantins, capitão de fragata, Paulo César Potiguara, recebeu homenagem especial pelo comprometimento com os Jogos dos Povos Indígenas em Porto Nacional.
As personalidades importantes Terezinha Gasparin Maglia, assessora técnica do gabinete do Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo; Cláudia Bonalume, diretora do Programa Esporte e Lazer na Cidade (Pelc indígena), do Ministério do Esporte e Paulo Ribeiro, do Instituto Darcy Ribeiro, abrilhantaram a cerimônia.
Mil e quatrocentas medalhas e 40 troféus foram entregues às delegações participantes, uma justificativa para a prática “O Importante não é Competir e sim, Celebrar”. Todos os indígenas que ali estavam foram vencedores.
Autoridades municipais, estaduais e federais participaram da cerimônia que encerrou com muita emoção e uma queima de fogos que clareou o palco principal da festa, a Ilha de Porto Real.
Fórum dos Direitos Indígenas
Nos três dias de discussões foram abordadas temáticas voltadas para o Fórum Social Indígena e a Rio +20 que tratarão da Conferência Internacional do Meio Ambiente e discutirão a economia verde além de temas com foco na sustentabilidade e na preservação das tradições indígenas. O intercâmbio esportivo e cultural entre as etnias e debates sobre a inclusão indígena como legado da Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas e Paraolimpíadas de 2016, também foram feitos.
Cinema indígena
Dos oito dias de evento, quatro, foram dispensados também a sessões de cinema indígena. Todas as noites, após as competições na arena, cerca de 200 indígenas assistiam às sessões. Terra Vermelha, Hetohokã-Karajá (documentário), Avatar e Hotxua, o ritual Krahô foram os filmes apresentados.
Agradecimentos
Os 40 atachês – voluntários responsáveis pelas etnias, também foram parabenizados.
Os principais veículos de comunicação do Brasil e de países como Austrália, Nova Zelândia, Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha e Japão, fizeram a cobertura jornalística perfeita dos Jogos. As melhores e mais ricas imagens dos nativos brasileiros foram captadas pelas lentes dos melhores fotojornalistas do mundo. Os jornalistas produziram os textos mais interessantes e completos. A essência indígena estava circulando nas veias. Ao término das atividades, os profissionais queriam que não acabasse essa celebração tão importante para o país e que no dia seguinte tivesse mais uma novidade para retratar.
As polícias Federal, Militar (com participação da Rotam) e Civil, guarda municipal, Corpo de Bombeiros Militar, Cipama e Naturatins faziam a segurança das pessoas e a fiscalização ambiental, respectivamente.
Os agradecimentos também vão para os barqueiros e condutores das duas balsas disponíveis para o transporte de passageiros e materiais, que desenvolveram um trabalho cuidadoso e eficaz.
O coordenador Esportivo e Cultural do ITC, Carlos Alberto Machado Gouveia; o locutor oficial do evento, Vinícius Borba; o coordenador esportivo e educador físico do Ministério do Esporte, Marcos Mendes e todos os voluntários cadastrados pelo Comitê, também são dignos de agradecimentos pela efetiva participação nos Jogos.
Histórico
Durante 508 anos, os povos indígenas ficaram à margem da sociedade brasileira. Sociedade essa, idealizada de acordo com os critérios de ‘civilização’ adotados pelo colonizador, a partir do contato. Como uma das mais graves consequências desse isolamento, inúmeras comunidades e povos foram dizimados, restando hoje, apenas 450 mil indígenas, que vivem em, praticamente, todo o território brasileiro, exceto nos Estados do Piauí e Rio Grande do Norte.
A diversidade cultural dos povos indígenas brasileiros é hoje representada por cerca de 230 etnias que vivem em suas terras originais e que ainda mantém vivas, aproximadamente 180 línguas. São povos diferentes entre si, cada um com sua identidade cultural, manifestações, uso, tradições, costumes, habilidades tecnológicas, organização social, ritos, crenças, filosofias, espiritualidades e seus esportes tradicionais peculiares.
A proposta dos Jogos dos Povos Indígenas preceitua o Artigo 231, capítulo VIII, da Constituição Federal: “São reconhecidos aos índios, sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições”, em consonância com a Lei 6.001, de 19 de dezembro de 1973, em seu Artigo 47: “É assegurado o respeito ao patrimônio cultural das comunidades indígenas, seus valores artísticos e meios de expressão”. O Artigo 217, inciso IV, da Constituição, se traduz na “proteção e incentivo às manifestações desportivas de criação nacional” e ainda, o Artigo 31, Declaração da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos dos Povos Indígenas, do ano de 2007: “Os povos indígenas têm o direito de manter, controlar, proteger e desenvolver seu patrimônio cultural, seus conhecimentos tradicionais, suas expressões culturais tradicionais, esportes e os jogos tradicionais e as artes visuais e interpretativas”.
Por Umbelina Costa (Ascom Porto)
Comentários
Postar um comentário